Paciente convive há 35 anos com agulha, esquecida 2 vezes dentro do corpo dela

Suspeita que 1º erro médico ocorreu 1988; em 2004 cirurgião retirou útero sem avisar, mas deixou agulha

| ANAHI ZURUTUZA E VIVIANE OLIVEIRA / CAMPO GRANDE NEWS


Raio-x de 2022 mostra que agulha está no mesmo lugar (Foto: Reprodução dos autos de processo)
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Paciente de 66 anos espera há nove anos ser indenizada por hospital e médicos, depois que descobriu uma agulha cirúrgica foi esquecida pela segunda em seu corpo. A ação de indenização por erro médico tramita na 3ª Vara de Fazenda Pública e Registros Públicos de Campo Grande desde 2014, mas a história de Marta Carneiro Brito começou em 1988, com o 1º 'descuido'.

Após o parto da última filha, por cesariana, na maternidade Santa Lúcia, em Cáceres (MT), a mulher ou a sentir fortes dores abdominais. Médicos, porém, não haviam conseguido diagnosticar a causa, até que no início de 2004, 16 anos depois, ainda sofrendo com incomodo que também lhe atingia a coluna, profissional conseguiu descobrir a causa em Campo Grande. Raio-x mostrou “material curvilíneo e denso' na região da pelve da paciente,  que parece uma agulha cirúrgica, usada para suturas. 'Sentia muita dor, um incômodo', contou

Marta procurou então a Santa Casa de Campo Grande e descobriu ser também portadora de um mioma uterino. A médica recomendou tratamento para a “histerectomia total' e “retirada de corpo estranho' da paciente. Em outubro de 2004, ela foi então internada no maior hospital de Mato Grosso do Sul para cirurgia.

Após acordar a operação, a mulher que esperava se ver livre das dores foi informada que o objeto não foi encontrado e por isso, não foi retirado. 'Tiraram meu útero sem me informar, mas não tiraram a agulha. Sofri uma parada cardiorrespiratória durante a cirurgia. Depois disso, fiquei com trauma muito grande, não queria mais ver médico', lamentou.

Inconformada, ela foi ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e só em 2011, conseguiu ar por nova inspeção médica. Em dezembro daquele ano, nova radiografia encontrou o material metálico curvilíneo (possivelmente uma agulha usada para suturas) no mesmo lugar. A paciente pretendia realizar nova cirurgia para a retirada do objeto, mas àquela altura já convivia com diabetes e hipertensão. Cirurgia foi desaconselhada até que melhorasse o quadro.

Ela processou os médicos – obstetra que esqueceu a agulha, radiologista que fez raio-x na Santa Casa e “não encontrou' o objeto e cirurgião que não retirou o corpo estranho durante a cirurgia em 2004 –, além da maternidade do Mato Grosso e do hospital da Capital. Na ação, os processados se defenderam alegando que o prazo para ingressar com ação judicial já estava prescrito e que não era possível comprovar que a agulha perdida eram a causa das dores da mulher, já que ela retirou mioma uterino.

Rebatendo uma das argumentações, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, que representa a paciente, afirmou que “os danos sofridos pela autora são indiscutíveis'. “Como última tentativa de se esquivar de sua responsabilidade, a requerida alega que o valor buscado pela autora é exorbitante porque a mesma ‘não está inválida, não sofreu sequelas, não está enferma, (...) não sofreu constrangimentos, não está abalada nos campos mentais’. Certamente, a referida médica assim pensa porque nunca ficou com uma agulha esquecida em sua pelve, por anos e anos a fio (desde 1988), sentindo fortes dores e ainda, procurando por diversos médicos e realizando exames sem sucesso'.

Em 2014, o pedido foi de uma indenização de R$ 210 mil. O processo segue a os lentos. Em setembro do ano ado, a juíza Liliana de Oliveira Monteiro mandou que a paciente asse por perícia médica. A última movimentação foi em março deste ano, quando raio-x foi anexado ao autos mostrando que a agulha não saiu do lugar.

Conforme Marta, na última consulta foi aconselhada a deixar a agulha onde está, na pelve óssea do lado esquerdo, onde foi criado uma película de proteção envolta do objeto. 'Por causa da diabetes, a cirurgia pode ter complicação. Minha vida é viver com medo, com trauma, insegurança. Até hoje estou inconformada', contou.

Quanto as dores, Marta continua sentindo mas agora misturado com outros problemas de saúde. Por causa da agulha, ela não pode fazer ressonância magnética, exame para identificar outros problemas. 'Não posso fazer, porque se agulhar se movimentar pode me causar morte instantânea', afirmou.



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