Casal de surdos viveu emoção ao ver filho nascer com parto traduzido

Nascimento do tão sonhado Matteo Lucca foi o dia em que a ibilidade venceu na vida dos dois

| NATáLIA OLLIVER / CAMPO GRANDE NEWS


Matheus e Stella viram o filho Matteo nascer junto da intérprete e tradutora de língua de sinais (Foto: Arquivo pessoal)
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Um casal surdo de Mato Grosso do Sul vivenciou um momento histórico ao ter o a uma intérprete de libras durante o nascimento do filho. Matheus Santos Moreno, 30, e Stella Mares Gomes Ramos, 28, que moravam em Volta Redonda-RJ, retornaram ao estado natal de Matheus para ter o bebê Matteo Lucca, beneficiando-se de uma lei estadual de 2020 que garante intérprete para gestantes surdas durante pré-natal, parto e pós-parto. A tradutora Danielle Rezende, que também é advogada especialista em libras e direitos humanos, foi fundamental para que o casal compreendesse todos os procedimentos médicos. O serviço gratuito pode ser solicitado através do setor de atendimento social dos hospitais, embora ainda seja pouco conhecido pela comunidade surda.

O casal morava em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, mas decidiu retornar para o estado onde Matheus nasceu para ter o bebê. Aqui, uma lei instituída em 2020 garante à gestante surda o direito a uma intérprete, tanto no pré-natal quanto no parto e no pós-parto. No entanto, esse recurso ainda é desconhecido por muitos. A responsável por tornar o momento tão simbólico foi Danielle Rezende, tradutora, professora e advogada especialista em Libras e direitos humanos.

“A minha esposa sempre quis, o sonho dela era ser mãe. Ela me deu um presente, e a luz de Deus dobrou, abençoando a família. Eu e minha esposa tivemos muitas dificuldades vivendo no Rio, não havia intérpretes de Libras na maioria dos lugares. Moramos lá por mais ou menos seis ou sete meses. Os médicos daqui da maternidade também tinham pouca ibilidade e intérprete de Libras, porque não sabiam como se comunicar com minha esposa. Não entendíamos claramente o que eles diziam e pedimos ajuda à Danielle, que foi minha professora.'

Ele comenta que muitas vezes não há empatia por parte das pessoas ouvintes em relação às dificuldades enfrentadas pelos surdos e que sua esposa ficou imensamente feliz ao contar com a ajuda da intérprete.

“Ela faz muito bem para a gente, conheceu meu filho e, no primeiro dia, pegou ele no colo. Ficou feliz demais. Eu me senti tão feliz começando a construir minha família. Ela trouxe uma energia positiva. Estou muito feliz.'

Danielle explica que para solicitar o serviço, de maneira gratuita, é preciso entrar em contato com o setor de atendimento social dos hospitais. São eles que contatam os profissionais responsáveis por tornar momentos omo esse íveis aos surdos.

Matteo não é o primeiro bebê que a advogada vê nascer dessa forma, sendo a intérprete. Ela conta que tem alguns nascimentos 'na conta'.

“Faço o acompanhamento de algumas audiências com pessoas surdas. Realizei esse atendimento ali que pode ser jurídico porque estava ali também para fazer valer os direitos desse pai, mãe e dessa criança. A gente consegue fazer essa junção. Foi muito gratificante fazer isso para uma pessoa que eu conhecia, ver o filho dele nascer e fazer a tradução desse momento é muito gratificante'.

Ela pontua que foi professora do Matheus ainda no ensino médio e que ficou feliz com o pedido dele. A lei é razoavelmente nova, por isso muitos surdos ainda não sabem que existe essa possibilidade.

“Vejo uma obrigação fazer acontecer os direitos da comunidade, que por diversas vezes eles nem conhecem os próprios direitos. Em toda minha trajetória de tradutora, a gente vê diversos momentos em que os direitos deles são desrespeitados. Como uma tentativa de minimizar isso, decidi advogar pela comunidade, para diminuir essas barreiras linguísticas'.

Danielle se formou em 2013 e se especializou em língua de sinais. Dez anos depois, se formou novamente em direito. A junção dos dois foi um misto de oportunidades de falar pelos que “não tem voz'.

“Muitos falam que o surdo tem que saber escrever e conversar de forma escrita e isso é muito desumano, de que a pessoa surda precisa saber escrever perfeitamente. A gente tem que entender que a nossa língua materna é a portuguesa, mas a de pessoas surdas é a língua de sinais. Então, se eu quero ter meus direitos atendidos na minha língua, por que eu vou tirar o direito da pessoa surda? É um momento que ela quer entender o que está acontecendo, que medicamento vai ser usado, quais ações vão acontecer, como vai cuidar do bebê'.

Ela ressalta que Stella é mãe de primeira viagem e toda orientação foi necessária e bem-vinda, como os cuidados com o bebê recém-nascido.



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